Tempo quente, guerra fria

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Neste verão, no hemisfério Norte, em que se intensificam as tensões comerciais, as notícias continuam bem quentes. No espaço de um ano, o nível efetivo das taxas alfandegárias dos Estados Unidos saltou de 2,5% para cerca de 15%, isso ainda antes da entrada em vigor das novas ondas do terceiro trimestre. O resultado? Um baque para os consumidores norte-americanos, confrontados com preços mais elevados dos produtos importados, devido tanto às taxas alfandegárias como, em menor grau, à desvalorização do dólar. Essa pressão se reflete na alta da inflação, que atingiu 2,7% em junho e que deverá acelerar nos próximos meses, embora de forma menos acentuada do que a previsão inicial. 

No plano geopolítico, os EUA intensificaram a ofensiva comercial no Sudeste Asiático. Alguns países da região já estão sujeitos a taxas alfandegárias que podem atingir 40%, o que constitui um golpe indireto para a cadeia de abastecimento chinesa. O que está na mira? O transbordo, uma prática segundo a qual mercadorias fabricadas principalmente na China transitam por um país terceiro antes de serem exportadas para os EUA. O Vietnã é um exemplo disso. Tirando partido das tensões sino-americanas, este país viu a sua produção industrial aumentar 70% em oito anos, com uma correlação quase perfeita entre o aumento das suas importações da China e a explosão das exportações para os EUA. 

Além disso, Donald Trump visa os países alinhados com as políticas “antiamericanas” dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). A ameaça? Taxas alfandegárias adicionais para aqueles que apoiam iniciativas como o BRICS Pay, um sistema de pagamento internacional baseado na tecnologia blockchain e concebido para contornar o SWIFT e favorecer as moedas locais. Segundo Trump: “Se o dólar perdesse o seu papel de moeda de reserva internacional, seria como se perdêssemos uma guerra mundial”. Nesse contexto geopolítico tenso, estaremos atentos à quarta conferência sobre o papel internacional do dólar, organizada pelo Federal Reserve (Fed) e que se realizará em 25 de setembro, em Nova Iorque. O programa tem como foco, entre outros temas, os pagamentos internacionais. Donald Trump, entretanto, está endurecendo a sua posição em relação ao conflito na Ucrânia. Ele ameaça impor taxas alfandegárias suplementares de 100% se não houver um cessar-fogo até 2 de setembro. Essas sanções, que suscitam dúvidas quanto à sua aplicação, poderão penalizar o setor da energia, principalmente o petróleo, visando os principais parceiros comerciais da Rússia, como a China e a Índia. 

Donald Trump, que aspira ao Prêmio Nobel da Paz, mostra uma dupla face. Por um lado, defende o fim dos conflitos abertos e, por outro, intensifica uma nova guerra fria, agora com a China. Essas constatações são justificadas: é a supremacia norte- americana e a supremacia do dólar que estão sob ameaça. Entretanto, a resposta de Trump, centrada em taxas alfandegárias elevadas, poderá se revelar contraproducente, afetando, antes de tudo, o bolso dos norte-americanos. A “One Big Beautiful Bill Act”1 poderá reacelerar o motor dos EUA, mas as receitas geradas pelas taxas alfandegárias poderão não ser suficientes para dissipar as preocupações dos investidores em relação às finanças públicas do país. 

No entanto, a economia mundial, tal como a dos EUA, continua robusta. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), apenas 5% dos países estão sob a ameaça de recessão, o menor nível desde 2007. O desemprego nos países da OCDE também se situa em uma mínima histórica de 5%, enquanto os lucros das empresas no primeiro trimestre avançaram 7% no ano a ano, o que levou os mercados de ações a atingirem novas altas na maioria das economias desenvolvidas. 

Nesta edição, convidamos você a analisar mais atentamente as tensões orçamentárias nos EUA e colocaremos a Europa em foco, analisando o desafio da produtividade e o futuro da moeda única, isso em um momento em que a zona do euro se prepara para receber o seu 21.º membro, a Bulgária.

1 - Em português: “Grande e Bela Lei“.

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Monthly House View, 23.07.2025. - Excerpt of the Editorial

06 agosto 2025

06 agosto 2025

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