Poder de precificação: uma maneira de lidar com inflação mais alta

25 junho 2021

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Monthly House View de julho de 2021 - download aqui

Há já vários trimestres que o cenário de uma forte recuperação econômica, também com projeções de alta da inflação, está claramente traçado. Felizmente, no hemisfério norte, a primavera preparou algumas surpresas para nos manter alerta.

A maior delas foi a variação nos juros de longo prazo nos Estados Unidos. Com a economia ganhando fôlego e a inflação, ainda que temporariamente, surpreendentemente positiva, seria lógico que o aumento dos juros de longo prazo recomeçasse. Na realidade, no segundo trimestre, a curva de juros dos Estados Unidos se achatou - mesmo com a recuperação dos juros de longo prazo observada após a reunião do Fed - conforme demonstrado pelas emissões de titulos do Tesouro dos Estados Unidos, que foram bem subscritas. Não faltaram tentativas de interpretação, desde a ideia de que os mercados já olham para além da alta da inflação, até a visão de que decepções com a criação de empregos estão dando ao Fed e, consequentemente, aos mercados de titulos, algum tempo.

Isso explica a importância da reação dos mer-cados à coletiva de imprensa de Jerome Powell em 16 de junho, com um aumento surpreendente nas previsões das taxas de juros para 2023, o que fez os juros de 10 anos dos EUA subir e levou a uma recuperação das chamadas ações Value (em particular, as financeiras) que tiveram desempenho inferior por um mês. Nesta conjuntura, foi o ouro que sofreu mais, nos lembrando que não há porto seguro que funcione em todos os regimes de mercado.

Nunca perder as esperanças na Europa: a outra boa surpresa da primavera foi provavelmente a forte aceleração das campanhas de vacinação que estavam atrasadas em relação aos Estados Unidos. Face ao impeto galopante dos Estados Unidos de Biden, a cobertura da midia retratou a Europa como atolada pela tecnocracia de Bruxelas. Alguns meses mais tarde, a França ostentava 30 milhões de pessoas parcialmente vacinadas e, no final das contas, parece haver somente um trimestre de defasagem entre o ciclo dos Estados Unidos e o da Europa.

Se considerarmos a recuperação histórica, a temporada de resultados recordes, bem como a politica econômica favorável, além de acrescentarmos as taxas de juros reais negativas que elevam as valorizações do mercado de ações, os investidores desfrutaram de condições excepcionais na prima-vera que raramente existem.

No entanto, coloca-se a questão de saber se os mercados estão excessivamente otimistas, e se essa combinação de fatores altamente favoráveis vai permanecer. Caso o momentum perca um pouco de força, o que faria sentido, as perspectivas para o segundo semestre do ano passarão então a ser sustentadas pelos bancos centrais, que ficarão ainda mais perto do centro da ação. Com uma rápida recuperação do crescimento e da inflação, que pode durar além deste trimestre, seria lógico que os bancos centrais sugerissem que o fim de suas politicas de compra de titulos (Quantitative Easing, QE) está próximo.

Essa é a questão-chave para o verão: conseguirá o Fed manter uma politica ultra-acomodaticia por muito mais tempo? Se for feito cedo e gradualmente, além de ajudar a manter as taxas de juros reais baixas, de forma a garantir que as valorizações sejam mantidas e a divida seja sustentável, os investidores podem permanecer confiantes, mas o Fed se encontra cada vez mais sobre uma corda bamba.

Embora a mensagem do Fed quanto à possibilidade de aperto de sua politica monetária nos próximos meses seja de cautela, o ponto-chave da última reunião dos membros do FOMC foi a surpresa dos "dot plots", com agora dois aumentos de juros esperados para 2023, contra nenhum anteriormente. Se o tempo entre a redução das compras do Fed e o aumento das taxas de juros diminuir, isso poderá vir a causar mais problemas no mercado.

Em outras palavras, a subida continua dos mercados está baseada sobre uma equação sutil e bastaria um erro de comunicação do banco central para rapidamente a subverter.

Mais uma vez, tudo gira provavelmente em torno das perspectivas de inflação; se esse aumento for temporário, os bancos centrais — e, portanto, os investidores - ainda terão algum tempo disponivel. Se a inflação continuar a surpreender, e se estabilizar em um nivel muito mais alto, levantando preocupações sobre um erro de politica monetária excessivamente acomodaticia, os investidores deverão ajustar cada vez mais seu posicionamento em ações, ao passo que pode ressurgir a questão da sustentabilidade da divida soberana. Estamos realmente nos movendo rapidamente do circulo virtuoso para o inferno de Dante.

 

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Monthly House View de 18.06.2021 da Indosuez, excerto do Editorial

25 junho 2021

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